mardi 26 février 2013

#2M Contra os #vampiros : Eles comem tudo e não deixam nada.




Processe-se Passos, Gaspar e a Troika

Os responsaveis pelos maus resultados da economia devem ser julgados?

Quem impõe tantos sacrifícios às pessoas e não cumpre, merece ou não merece ser responsabilizado civil e criminalmente pelos seus actos? Não se assuste já, caro leitor, se for apoiante do governo.
A proposta não vem de um estudante indignado, um desempregado excessivo, um reformado fulo ou de um cantor de Grândola exagerado. A proposta de responsabilizar civil e criminalmente os políticos que impõem “tantos sacrifícios às pessoas” e não cumprem” foi avançada por um cidadão cujo número de contribuinte anda a ser cravado em múltiplas facturas. Estávamos no distante dia 5 de Novembro de 2010, quando Pedro Passos Coelho fez a proposta de criminalizar civil e criminalmente os políticos que impõem “tantos sacrifícios” e não obtêm resultados. Claro que na altura Passos Coelho era líder da oposição - uma espécie de “outra vida”, habitualmente desvalorizada enquanto fenómeno paranormal pelos seus apoiantes.
Ora, nessa longínqua sexta-feira, Passos não se limitou a cantar uma canção antiga ao primeiro- -ministro Sócrates. Propôs julgá-lo nos tribunais, uma vez que os responsáveis pelos “maus resultados da economia” não poderiam continuar “a andar de espinha direita, como se não fosse nada com eles”. Há imensa gente que continua também a não entender como Passos e Gaspar, depois da revelação das últimas consequências das suas políticas, continuam a “andar de espinha direita”.
O baú da política é um lugar carregado de emoções. Nessa sexta-feira, em Viana do Castelo, Passos era outro homem - e foi esse homem que foi sufragado pelo povo, de onde decorre a legitimidade democrática.
Mais uma citaçãozinha do tempo em que Passos Coelho era um antepassado do primeiro-ministro: “Sempre que se falham os objectivos, sempre que a execução do Orçamento derrapa, sempre que arranjamos buracos financeiros onde devíamos estar a criar excedentes de poupança, aquilo que se passa é que há mais pessoas que vão para o desemprego e a economia afunda-se”. Na altura, a proposta de criminalização não foi extraordinariamente bem sucedida. Marcelo Rebelo de Sousa admitiu que seria possível, eventualmente alargando o leque dos crimes de “gestão danosa”.
A ideia de Passos Coelho de sujeitar a responsabilidade criminal a destruição económica do país talvez possa ser recuperada - sem nunca esquecer no processo a Comissão Europeia, o BCE e o FMI, mandantes e cúmplices activos da implosão social.

Passos em 2010: “Quem impõe tantos sacrifícios às pessoas e não cumpre, merece ou não merece ser responsabilizado civil e criminalmente pelos seus actos?”, questionou Passos Coelho em Viana do Castelo, em 2010
 

Eles comem tudo e não deixam nada

"Feliz é o país que protesta com uma canção", Vivianne Reding

Houve ontem duas vozes sensatas no meio do turbilhão que percorre o espaço público e político a propósito das “flash mobs” da Grândola - uma iniciativa do movimento que organiza a manifestação de 2 de Março. Quem aterrasse em Portugal depois de 25 anos isolado na Lapónia sem internet ou rádio poderia julgar, ouvindo alguns deputados da direita, que o parlamento estava cercado, o governo sequestrado, um golpe militar em curso ou coisa que o valha. E, como disse ontem a vice-presidente da Comissão Europeia Vivianne Reding, “feliz é o país que protesta com uma canção” e não “com violência nas ruas”. A fúria popular existe, é profunda, está longe de se confinar a uma minoria organizadora de manifes, mas em Portugal tem sido canalizada da forma mais suave possível. Digamos que os organizadores da manif até na escolha da “Grândola” como hino daquela espécie de flash mobs mostraram a sua, digamos, tentativa de moderação.
Outro significado teria a escolha de “Os Vampiros”, que “com pés de veludo”, “comem tudo e não deixam nada”. Mas é interessante constatar o nível de violência com que o poder dominante tem comentado os episódios da “Grândola”. O governo tem reagido acossado como se existissem tiros nas ruas ou nas manifestações como na Grécia – é extraordinário como é tão fácil fazer este governo perder a cabeça. Afinal manifestações populares todos os governos anteriores as tiveram e não estavam a aplicar um programa que implodia a coesão social. Ontem a ministra Paula Teixeira da Cruz veio repor alguma da sensatez que faltava lá para as bandas do governo - uma actividade que todos os dias se comprova não ser para meninos. Disse a ministra que “as pessoas cantarem ‘Grândola, Vila Morena’ significa que estão a apelar, e é preciso entender esses apelos neste momento difícil, neste momento duro”. Infelizmente, a grande massa do governo e dos seus apoiantes não está a entender estes apelos - julgando-os confinados a minorias não representativas. É preciso não andar na rua - nem estar desempregado ou ter um familiar nesta situação - para pensar que por desconhecidas e minoritárias que sejam as personagens que organizam estas sessões não representam um profundo sentimento popular de combate ao governo. Infelizmente para Passos Coelho, não vai ser apenas a base eleitoral do PCP e do Bloco de Esquerda que vai aparecer nas ruas no dia 2 de Março. Vão ser pessoas de todos os lados, inspiradas nos recibos de vencimento de Fevereiro, nos irmãos desempregados e nos pais que levaram um corte alucinado nas pensões.


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