Os glutões
Sem grande espanto surgiu em forma de notícia publicada num
jornal da especialidade de economia uma recomendação segundo a qual
Portugal poderia financiar-se nos mercados internacionais com a ajuda
das suas reservas de ouro (oiro). A prosa assinala também que Portugal
tem as maiores reservas proporcionais à riqueza em todo o mundo (o que
não é factualmente correcto) e sublinha que o metal amarelo se tem
valorizado imenso, pois que se assim não fosse não havia o interesse
subjacente à notícia.
Era mesmo o que faltava. Depois das famílias, dos velhinhos, dos
convites televisivos e insistentes do maior locutor de rádio do país,
hipotecar as reservas de ouro (oiro)!
Há dois factores que condicionam isso. A legislação e o imaginário português que sempre associou o ouro (oiro) nacional ao último reduto da soberania e de independência (o pé-de-meia para a doença também). Há alturas históricas em que apetece redimir o senhor D. Manuel, o Venturoso.
Há dois factores que condicionam isso. A legislação e o imaginário português que sempre associou o ouro (oiro) nacional ao último reduto da soberania e de independência (o pé-de-meia para a doença também). Há alturas históricas em que apetece redimir o senhor D. Manuel, o Venturoso.
Decisões e contra-decisões minam a nossa credibilidade
Um dos princípios da atractividade dos países para captar
investimento, ou mais simplesmente para permitir que os seus habitantes
(sejam nacionais sejam estrangeiros) possam fazer planos com um mínimo
de projecção temporal, tem a ver com a expectativa de estabilidade.
Ora Portugal vai de mal a pior nesse campo. Por mais que Paulo Portas, Álvaro Santos Pereira e Pedro Reis, do AICEP, se esforcem vigorosamente vai ser muito difícil atrair investidores de pequena e média dimensão para Portugal.
Ora Portugal vai de mal a pior nesse campo. Por mais que Paulo Portas, Álvaro Santos Pereira e Pedro Reis, do AICEP, se esforcem vigorosamente vai ser muito difícil atrair investidores de pequena e média dimensão para Portugal.
Desde sempre houve momentos entre nós em que se tomam decisões
absurdas e mais facilmente justificáveis pela existência de interesses
sub-reptícios do que por aspectos benéficos à causa pública.
Alguns casos foram até caricatos. Basta recordar que um belo dia a
população foi informada de que os táxis teriam de passar a ser bege.
Vieram novos dessa cor. Outros foram sendo pintados. E mais ou menos
quando estava tudo bege e bastante mais feio eis que a tese da luminária
influente foi derrotada e os táxis lisboetas puderam voltar ao preto
com tecto verde que tão bem identificam o nosso país e especialmente
Lisboa.
Outro caso incompreensível à luz de qualquer tentativa racional teve
a ver com as palas dos automóveis, que, nos finais dos anos 70,
passaram subitamente a ser obrigatórias. Metade do país automobilístico
foi então multado e por certo que só alguns interessados directamente no
assunto é que se sentiram confortáveis com a situação, até porque a
maioria das palas se segurava mal nas carroçarias, assegurando um maná
de compras de substituição.
A questão é ancestral e teve muitos episódios. Houve tempos recuados
em que até era obrigatório ter licença de isqueiro. Depois houve
licenças de bicicleta que eram um verdadeiro martírio para tirar nas
câmaras. De um dia para o outro desaparecem (é até de estranhar que
Vítor Gaspar ainda não as tenha reposto, uma vez que é um meio de
transporte que se está a multiplicar). Mais recentemente tentou-se
instalar chips em todos os carros, o que teria um duplo efeito de
negócio gigantesco e de perfeito big brother. A coisa ficou, graças a
não se sabe quem, em águas de bacalhau.
Ainda ontem o governo avançou para os parceiros sociais com novos
cortes, insensatos, insensíveis e brutais nas prestações sociais.
Minutos depois (para falar com rigor cronométrico) recuava.
Mais palavras para quê?
Eduardo Oliveira Silva
25 Outubro 2012
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