samedi 14 mai 2011

IndieLisboa - Um olhar sobre a competição nacional de longas

IndieLisboa : Um olhar sobre a competição nacional de longas

Vimos as longas metragens portuguesas em competição... Temos motivos para ficar contentes


par le 2 mai 2011

VIAGEM A PORTUGAL

real. Sérgio Tréfaut
avec : Maria de Medeiros, Isabel Ruth, Makena Diop
2011 Faux

A Torre de Belém aparece no fundo de uma fotografia, como paraíso inalcançável ou extraviado. Quem espera de Viagem a Portugal um panfleto turístico em forma de filme que se desengane pois trata-se do oposto. Não que se denigra a qualidade das nossas atrações, simplesmente porque nem sequer chega lá, fica-se pela viagem que poderia ter sido. O título do filme, Viagem a Portugal, é de uma ironia dramática. Portugal até pode ser um país maravilhoso, mas nós ficamo-nos pelas paredes brancas do aeroporto de Faro, onde uma ucraniana (Maria de Medeiros) que veio visitar o marido (Makena Diop), com um visto de turismo válido, é impedida de entrar no país pelos Serviços de Estrangeiros e Fronteiras.
Não deixa de ser sintomático que Sérgio Tréfaut, que se destacou no documentário com Lisboetas onde, mais uma vez com alguma ironia no título, revelava as comunidades imigrantes de Lisboa, regresse ao tema da imigração na sua primeira ficção. E, mais uma vez, com uma intenção política e humana, de mostrar o que não se vê. Aqui desperta em nós, da forma mais violenta, um sentimento de injustiça, exibindo as subtilezas da descriminação xenófoba e racial. Fá-lo de forma inteligente, humanizando de certa maneira os agentes da polícia, sobretudo a agente interpretada por Isabel Ruth, desenhando-os com as suas contradições, culpando também o sistema em si, sem os diabolizar como o mal absoluto. Um conceito ademais realista e eficaz. Porque a xenofobia lusa aprece muitas vezes mascarada ou alternada com cartas de princípios e condescendentes boas intenções e lições de tolerância. Mas o resultado efetivo é a usurpação de direitos básicos que nos provoca uma sensação de claustrofobia. Tudo isto no Portugal contemporâneo que é como quem diz, em 1998, ano da Expo de Lisboa, em que Tréfaut contextualiza a história inspirada em factos verídicos.
Subleva-se um conceito formal e minimalista. O fundo branco em que as cenas decorrem e se repetem numa outra perspetiva, na tentativa de nos colocar em ambos os lados... Porque facilmente vestimos a pele do oprimido, ainda para mais quando a atriz que faz de ucraniana é a portuguesa Maria de Medeiros. Mas na verdade, enquanto portugueses calha-nos talvez o papel do opressor. Sérgio Tréfaut estreou-se da melhor forma na ficção, e o seu filme é um forte candidato ao prémio nacional do Indie.

Manuel Halpern 
source texte : http://aeiou.visao.pt

*

Aucun commentaire:

Enregistrer un commentaire